
Mostra em Salvador reúne os registros feitos pela escritora durante seu exílio
Tiago Décimo
Paulistana de nascimento e 'baiana de coração', a escritora Zélia Gattai, de 91 anos, só publicou o primeiro de seus 14 livros quando tinha 63 - e depois de muita insistência do marido, o também escritor Jorge Amado. Reunindo uma série de memórias de Zélia, Anarquistas, Graças a Deus, a obra de estréia, vendeu mais de 200 mil exemplares apenas no Brasil, foi traduzido para cinco idiomas, adaptado para minissérie televisiva e mostrou ao mundo o olhar sensível da autora com relação aos fatos vividos pelo casal.
A revelação considerada tardia do talento de Zélia com as palavras - hoje uma imortal da Academia Brasileira de Letras - é comparável à de outra habilidade artística da escritora, que aos poucos é descortinada ao público: a fotografia.
Foi durante o exílio do casal na Europa, entre 1948 e 1952, que Zélia passou a ter preocupação em registrar o cotidiano dos dois e os encontros com personalidades diversas. De lá para cá, passaram pelas lentes comandadas por Zélia ícones da intelectualidade, como o pintor Pablo Picasso, o casal Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, os escritores Pablo Neruda e José Saramago, os atores Sophia Loren e Marcello Mastroianni, o arquiteto Oscar Niemeyer - sem falar, claro, dos baianos Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Mãe Menininha do Gantois.
Parte desse acervo veio à tona na fotobiografia de Jorge Amado, Reportagem Incompleta, lançada pela escritora em 1987. Pouco, claro.
'Mamãe tem milhares de fotografias interessantes e belas', afirma a filha de Zélia, Paloma Amado. 'Há tempos queríamos montar uma exposição, mas não tínhamos oportunidade. Ano passado, quando Zélia completou 90 anos, a chance apareceu e, então, começamos a escolher as imagens.' Paloma e a fotógrafa Arlete Soares assinam a curadoria da exposição Zélia Gattai Amado Fotógrafa - Um Olhar Imortal, que reúne, em um espaço no litoral norte baiano, a 65 quilômetros de Salvador, 43 fotografias em preto- e- branco da escritora. São imagens em que Zélia retrata várias fases dos 56 anos de casamento com Jorge Amado. 'A obra não se resume ao registro histórico', afirma Paloma. 'Ela é de grande qualidade técnica e traduz uma sensibilidade e um senso de oportunidade ímpares.' Todos os painéis fotográficos da exposição estão acompanhados por textos extraídos de dois livros de Jorge Amado, Navegação de Cabotagem e Bahia de Todos os Santos, que fazem menção às personalidades retratadas.
A idéia é que a mostra também vire livro. 'Isso ainda não é certo, mas está sendo estudado - até porque muito mais gente tem ido visitar a exposição do que a gente supôs, antes da inauguração', afirma Paloma. A exposição está aberta a visitação até 30 de setembro, das 9 às 17 horas, na Reserva Imbassaí (Rodovia BA-099, km 65, Mata de São João, Bahia). A entrada é franca e cópias das fotos estão à venda por valores entre R$ 600 e R$ 1.500, a depender do formato. Mais informações pelos tels. (71) 3271-5393 ou 3245-1833
Fonte Estado de São Paulo - Tiago Décimo