Aqui não se pode fazer fotos. Não se pode fazer muitas outras coisas também.
Aliás, “não pode” se usa muito por essas bandas. Estou em Jeddah, na Arábia Saudita, aonde passei essa ultima semana. E como não pude fotografar vou tentar mostrar o que vi com palavras.
Uma cidade que cresceu no meio do deserto. Mas não, não se anda de camelo.
Só se vêem carrões, daqueles americanos que uma acelerada e lá se vão 3 litros de gasolina. No problem, ela custa poucos centavos por aqui.
Estamos no pais do petróleo. O epicentro do ouro preto e de todas a disputas pela sua exploração. Em pleno deserto, Mcdonald’s e Starbucks estão em cada esquina.
Faz muito calor, mas se anda sempre de casaco, já que fazem 15 C° dentro dos carros e dos ambientes fechados com ar condicionado ao máximo. Nas ruas não se vê uma alma que caminha.
Eu, chegando, larguei toda a minha tralha no hotel e fui dar uma volta de reconhecimento. A pé, claro. Logo todos me olhavam e os carros que passavam buzinavam. Atração local.
Mas o petróleo não é o protagonista absoluto da região. A poucos kilometros de Jeddah fica Meca. Este reinado é o vaticano do Islamismo. Aquele do Bin Laden, de Alah, e das mulheres de véu.
Essas mulheres já vimos, são comuns pela Europa. Mas uma coisa é vê-las em minoria, outra é um inteiro país aonde o máximo que se vê delas são os olhos. Quando não usam o burca completo, fechado. Todas. Todas de preto. Depois de uma semana basta que se veja uma canela ou um nariz de fora para ficar animado.
A segregação é total. Clube do bolinha e clube da luluzinha. Restaurantes, cafés, e qualquer outro dos poucos lugares de socialização é dividido em dois. Famílias para um lado, homens para o outro.
Mas, como, mulheres e homens se conhecem, e se casam, você se pergunta? Fiz essa pergunta algumas vezes. Não consegui entender as respostas.
Não consegui entender também quando me disseram que até mesmo os casamentos são separados. Homens vão pra um lugar. Mulheres para outro.
Álcool é proibido. Da cadeia. Drogas nem se fala, são pena capital. A pena capital na Arábia Saudita significa a degolação em praça pública. Grande acontecimento local. “Mas que só acontecem 1 ou 2 por mês..” foi o comentário que eu escutei, quando, curioso tentava entender essas coisas que para mim pertenciam ao período medieval e lá tinham ficado.
Voltando às mulheres. Estas não podem guiar seus carrões, e devem caminhar 2 metros atrás de seus maridos. Os maridos, em seus thobe brancos impecáveis muitas vezes são seguidos por 3 ou 4 esposas, devidamente cobertas, lacradas. Mas essa conta
não bate.. um bocado de homem que vai ficar sozinho, não? Vai saber o que eles fazem entre eles..
A cada 2 ou 3 horas todos devem seguir o chamado das mesquitas que se ouvem em qualquer ponto da cidade e se dirigir àquela mais próxima para rezar. Logicamente homens nas mequitas para homens, mulhers nas mesquitas de mulheres.
Todas as lojas e restaurantes devem fechar nesses momentos e aqueles que não estiverem rezando nessa hora são alvos da policia religiosa. Que não tem grande reputação de cordialidade. Isso se repete durante o dia inteiro. Todos os dias.
A impressão que se tem é que com esse fanatismo religioso todos aqui estão sempre se punindo, auto flagelando, esperando o dia em que entrarão na terra de Alah para ai sim começar a viver.
Eu sinceramente não consegui entender essa cultura. Esse pais. É verdade, foram apenas poucos dias. Mas temo que mesmo vários anos não me fariam compreender tal repressão e divisão hierárquica entre homens e mulhers.Triste.
Claro, não posso, nem quero julgá-los. Tenho certeza que muita gente que visita o nosso Brasil fica chocado e vai embora sem entender a violência, as diferenças sociais todos esses problemas que para nós são já quase indiferentes. Estamos anestesiados.
Foi, como sempre é, muito interessante conhecer esse mundo tão diferente do meu.
Melhor ainda foi pegar o avião de volta para a Itália.
Curioso foi quando embarcaram comigo nesse vôo varias mulheres devidamente encapusadas. Mal o avião tinha decolado e todas elas já tinham se
livrado do burca e revelado não só lindos rostos, mas roupinhas justas e na última moda. Uma delas manteve o burca. Estava com o seu marido ao lado.
Mas tudo isso aconteceu anteontem..nesse momento escrevo essas linhas enquanto atravesso o atlântico.
Mais algumas horinhas pro verão, família e amigos!
E viva!
--
andré klotz
+39 329 8137000
milano, italia
+55 11 9220 2275
sao paulo, brasil
www.andreklotz.com